P R E F Á C I O
O
conhecimento do Porto oitocentista exige o emergir de um conjunto muito vasto
de personagens, envoltas, por vezes, numa intensa neblina, fruto do inevitável decorrer
do tempo. Por outro lado, a inserção no meio destas personagens foi de tal
forma relevante que o seu rasto deixou marcas, hoje pouco claras, mas cuja
progressiva investigação revelará, estou certo, um conjunto de elementos com
interesse para uma verdadeira compreensão do Porto burguês do sec. XIX.
O
Porto oitocentista é a cidade das Ordens Terceiras, dos Clubes e Associações,
dos Benfeitores, cujas fortunas atingiam valores muito significativos, mas
também dos brasileiros, regressados de além-Atlântico, com uma força anímica
alimentada por grossos cabedais. Por vezes era apenas o dinheiro que vinha,
possibilitando a riqueza dos que ficavam. É nesta panorâmica que se insere um
dos mais interessantes membros da Família estudada nesta obra, mais
precisamente António Lourenço Correia, denominado maliciosamente de «O Arara»,
e cuja biografia nos é traçada nesta obra. Aos estudos monográficos deve
exigir-se um outro rigor e aprofundamento, que às obras gerais se poderão
relevar, sobretudo face ao último aspecto. E na evolução clara que se pretende
no sentido de passarmos de uma Genealogia para uma História da Família,
interessa a revelação de pequenos episódios, de pujanças e vicissitudes; apela-se
ao conhecimento dos locais onde a família viveu (ou vive), aos objectos por que
se viu rodeada; sugere-se uma incursão pelas distintas formas de manifestação dos
seus pensar e agir.
Com esta monografia genealógica, Pedro Dantas contribui para o
conhecimento da burguesia portuense dos séculos XIX e XX, com ligações a alguns
membros da nobreza, já entrado este último século, após a inevitável consolidação
socio-económica da Família. As obras em que os autores traçam a História das
suas Famílias tem degenerado, em alguns casos, em verdadeiros hinos
laudatórios, quando, tantas vezes, por detrás do pano, se sucedem situações de
menor cumprimento dos padrões estipulados pela sociedade. Compreendo que se
possa eufemizar (se bem que não se devam omitir) certos factos menos ortodoxos,
e por isso mesmo exalto o Autor deste estudo pela forma despretensiosa com que
conta as Histórias da Família que lhe está na génese. Ao Autor, ficam a ciência
genealógica e o historial das famílias portuenses gratos por uma obra que tem
por princípio orientador a seriedade, que a própria Família, os apreciadores
destas temáticas e os investigadores poderão e deverão valorizar.
Porto, 9 de Maio de 1997
D.
Gonçalo de Vasconcelos e Sousa