27 setembro 2015

Prefácio



P R E F Á C I O

O conhecimento do Porto oitocentista exige o emergir de um conjunto muito vasto de personagens, envoltas, por vezes, numa intensa neblina, fruto do inevitável decorrer do tempo. Por outro lado, a inserção no meio destas personagens foi de tal forma relevante que o seu rasto deixou marcas, hoje pouco claras, mas cuja progressiva investigação revelará, estou certo, um conjunto de elementos com interesse para uma verdadeira compreensão do Porto burguês do sec. XIX.

O Porto oitocentista é a cidade das Ordens Terceiras, dos Clubes e Associações, dos Benfeitores, cujas fortunas atingiam valores muito significativos, mas também dos brasileiros, regressados de além-Atlântico, com uma força anímica alimentada por grossos cabedais. Por vezes era apenas o dinheiro que vinha, possibilitando a riqueza dos que ficavam. É nesta panorâmica que se insere um dos mais interessantes membros da Família estudada nesta obra, mais precisamente António Lourenço Correia, denominado maliciosamente de «O Arara», e cuja biografia nos é traçada nesta obra. Aos estudos monográficos deve exigir-se um outro rigor e aprofundamento, que às obras gerais se poderão relevar, sobretudo face ao último aspecto. E na evolução clara que se pretende no sentido de passarmos de uma Genealogia para uma História da Família, interessa a revelação de pequenos episódios, de pujanças e vicissitudes; apela-se ao conhecimento dos locais onde a família viveu (ou vive), aos objectos por que se viu rodeada; sugere-se uma incursão pelas distintas formas de manifestação dos seus pensar e agir.

Com esta monografia genealógica, Pedro Dantas contribui para o conhecimento da burguesia portuense dos séculos XIX e XX, com ligações a alguns membros da nobreza, já entrado este último século, após a inevitável consolidação socio-económica da Família. As obras em que os autores traçam a História das suas Famílias tem degenerado, em alguns casos, em verdadeiros hinos laudatórios, quando, tantas vezes, por detrás do pano, se sucedem situações de menor cumprimento dos padrões estipulados pela sociedade. Compreendo que se possa eufemizar (se bem que não se devam omitir) certos factos menos ortodoxos, e por isso mesmo exalto o Autor deste estudo pela forma despretensiosa com que conta as Histórias da Família que lhe está na génese. Ao Autor, ficam a ciência genealógica e o historial das famílias portuenses gratos por uma obra que tem por princípio orientador a seriedade, que a própria Família, os apreciadores destas temáticas e os investigadores poderão e deverão valorizar.

Porto, 9 de Maio de 1997

D. Gonçalo de Vasconcelos e Sousa